O menino e a macieira
- narjarathamiz
- 28 de abr.
- 2 min de leitura

Numa bela casa na zona rural de uma grande cidade, vivia um garoto de 8 anos com sua família. Ele amava brincar no belo jardim da casa, especialmente quando seu avô vinha visitá-lo.
Seu lugar preferido era uma macieira, forte e generosa, que todos os anos enchia o quintal de flores e frutos. Tanto a amava, que construiu com seu avô uma pequena casa em seus galhos mais firmes. Ali, entre risos e brincadeiras, o menino viveu alguns dos seus momentos mais felizes.

Mas um dia, seu amado avô partiu. Tomado pela tristeza, o menino se afastou da árvore, que agora lhe trazia lembranças das quais precisava manter alguma distância.
A macieira, que antes parecia indestrutível, começou a mudar.Suas folhas secaram. Seus galhos ficaram frágeis. Preocupado, o menino tentou de tudo: água, adubo, carinho. Mas nada parecia trazer a árvore de volta à sua antiga vida.

Foi então que, remexendo velhas cartas e fotografias, o menino descobriu algo sobre aquela macieira. Ela fora plantada por uma família que, pouco depois, precisou deixar a casa às pressas. Durante muito tempo, a árvore ficou sozinha, esquecida, sem mãos que a tocassem, sem olhares que a acolhessem.
Ela sobreviveu, mas nas profundezas da terra, em suas raízes, ficou registrada a dor do abandono. Uma dor silenciosa, invisível, mas que permaneceu viva dentro dela, mesmo sem que se percebesse. Agora, sem a presença amorosa do menino e do avô, aquela ferida antiga havia se reaberto, manifestando-se através dos sintomas que o menino via.

Foi então que ele compreendeu que os sintomas não eram o problema principal. O que adoecia a árvore era uma dor muito mais antiga, escondida onde poucos olham, nas raízes.
Com essa compreensão, o menino passou a cuidar das raízes, nutrindo a árvore com paciência e atenção. A raiz cicatrizou, e a árvore voltou a florescer. Mas agora havia consciência: Mesmo curada, a árvore carregava uma cicatriz e sabia que precisava cuidar dela, pois toda ferida, ainda que cicatrizada, é um ponto sensível quando tocado.

E assim também somos nós. Nossos sintomas, nossos medos, nossas dores são muitas vezes apenas as folhas caindo. A verdadeira ferida mora onde quase ninguém vê. É ali, na raiz da nossa história, que começa a cura. E é na auto-consciência e no cuidado contínuo que reside o segredo para viver mais no presente e menos aprisionados pelas dores do passado.
Namaste!
Narjara Thamiz
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